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Dois clubes de futebol em campo no Rio de Janeiro, um cordão de policiamento deixando um espaço de segurança entre as torcidas. Jornalistas, personagens e até ambulantes presentes. Poderia ser o Maracanã, mas se tratava do Ajudão. Ou melhor: a sede do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), que fica na Rua da Ajuda, no Centro, onde torcedores de Fluminense e Portuguesa pareciam tentar de alguma forma ajudar seus times na busca pela vaga na Série A do Campeonato Brasileiro. O duelo foi apimentado pela presença de rubro-negros, vascaínos e botafoguenses que apareceram para reforçar a torcida da Lusa. 





A torcida do Fluminense elegeu rapidamente novos heróis. Héverton, pivô da punição sofrida pela Portuguesa e que determinou a permanência do clube carioca na Série A, teve seu nome gritado, assim como o do advogado Mário Bittencourt. Uma pessoa que deixou a sede do tribunal chegou a ser confundida com ele e foi abraçada pelos tricolores na ânsia de festejar o fim do pesadelo de mais um rebaixamento.





Do outro lado, torcedores da Portuguesa choraram a queda. Um ônibus veio de São Paulo com 40 pessoas especialmente para ajudar de alguma forma o clube. Na sede do STJD, eles receberam o apoio de flamenguistas, principalmente, e vascaínos e botafoguenses. Os gritos de "Série C" contra o Fluminense prevaleceram com palavra vergonha decorando qualquer manifestação.





A provocação foi constante das duas partes. Ao fim das defesas, quando a votação teve início, o silêncio tomou conta do Ajudão. Torcedores acompanhavam pela internet ou em televisões de bares próximos. A cada voto anunciado, a torcida do Fluminense comemorava e a decepção crescia do lado da Portuguesa.





No fim, a torcida do Fluminense transformou a rua em arquibancada, fez balançar o Ajudão e não se importou com os poucos gritos que ainda ecoavam do outro lado, lembrando quedas anteriores. Para eles, não havia nada relacionado ao "tetrarebaixamento" cantado pelos torcedores da Portuguesa. Naquele momento, o motivo era para festa.







Estudante de Direito e estagiária de um escritório próximo, Karolina Abrantes levou uma bandeira do Fluminense para o trabalho, acompanhou parte do julgamento pela internet e foi para o Ajudão comemorar. Ela não concordou com os argumentos da Portuguesa e sentenciou:





- A Justiça foi feita. A regra é clara. Quem fala em pagar a Série B entende menos de futebol do que eu e olha que não entendo muita coisa. Estou muito feliz. Ficamos na Série A, o Anderson foi embora e Conca está contratado - afirmou Karolina.





O julgamento estimulou até mesmo quem pensa no futuro em trabalhar com Direito Esportivo. Guilherme Moraes ouviu de sua mãe a ordem para não aparecer no local. Mas o pai o liberou.





- Já estava com muita vontade. Sempre acompanho, a área é do meu interesse. Juntou as duas coisas. O Fluminense e o Direito Esportivo - comentou.





Do outro lado, a conselheira da Portuguesa Regina Maria da Costa estava inconsolável. Seu choro foi o símbolo do que o clube viveu naquele momento. Ao seu lado, jovens torcedores do clube rezavam em vão pela absolvição.





- É muito triste. Acompanho sempre a Portuguesa. Eles tratam a gente como clube pequeno e fazem isso - comentou Regina.





Consciente de que pouco poderia fazer pelo seu clube naquele momento, o comerciante Armandio Lagareiro também mostrou sua revolta. Para ele, a necessidade de comparecer ao Ajudão foi uma forma de representar.





- Sabemos que não podemos fazer nada aqui, mas nossa atitude foi para mostrar representatividade e apresentar nossa revolta com o que acontece no futebol brasileiro - disse Armandio.


Flamenguista ironiza situação de Vasco e Flu durante julgamento.





Os policiais, que fizeram cordão de isolamento entre as torcidas, não tiveram trabalho e assistiram a tudo passivamente. O resultado do julgamento fez os tricolores se exaltarem. Voaram garrafas de água e latinhas de cerveja. O hino foi cantado e os nomes de Mário Bittencourt e Conca também. 





Extasiados e na Série A, os torcedores do Fluminense deixaram o local com a certeza de que a Justiça foi feita e não houve virada de mesa. Do outro lado, a revolta por uma decisão no tapetão. O futebol nunca é unânime, mas, novamente, teve uma página escrita nos tribunais. Com direito a torcida, policiamento, heróis e vilões.





Em tempo: a Portuguesa já avisou que vai recorrer ao Pleno do STJD. A Rua da Ajuda tem tudo para ficar com clima de estádio ainda neste fim de ano, quando ocorrer o novo julgamento.





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