Uma das dez espécies animais mais ameaçadas de extinção do Estado do Rio de Janeiro supera o despejo de dejetos no oceano e a pesca acidental para sobreviver na Baía de Sepetiba, nos mares de Itacuruçá, distrito de Mangaratiba, Costa Verde fluminense. Ali, os botos cinzas, uma espécie de golfinho, formam a maior concentração deste tipo de mamífero das Américas Latina e Central, segundo a ONG Instituto Boto Cinza (IBC), embora a mortandade não natural chegue ao dobro do número aceitável — com cerca de 30 animais por ano. A estimativa é de que, naquelas águas, haja 2 mil golfinhos e de que cheguem a passear, juntos, em grupos de até 200.
O IBC, que, como sugere o nome, protege o animal — mas também outros cestáceos e até aves — é a responsável pelos cálculos e também pelos estudos do simpático mamífero, que empresta o nome a pousadas, restaurantes e mercados do distrito, que vive à base do turismo e da pesca. A partir de fevereiro, os pescadores vão realizar também passeios educacionais com turistas em locais onde os golfinhos nadam em grande número.
É justamente a rede do pescador, porém, um dos principais inimigos dos botos cinzas. É comum que, acidentalmente, fiquem presos e furem as redes. Quase sempre morrem, e reduzem o trabalho do pescador a zero. A solução encontrada pela ONG foi aproveitar esta mão de obra descontente e capacitá-la. Já que a pesca industrial esmaga o lucro dos autônomos, que os pescadores façam do mar a fonte de renda de casa promovendo passeios educativos.
"O projeto tem base comunitária, para render vantagens econômicas ao pescador. Haverá stands onde os turistas vão comprar tíquetes para passear com barqueiros locais nos lugares onde os golfinhos andam em agregação [grupo com mais de 100 animais]", explica Leonardo Flach, coordenador científico do IBC e do projeto, intitulado Abrace o Boto Cinza. Questões como dia de inauguração e preço dos bilhetes será definida nos próximos dias em reunião com autoridades, pescadores e biólogos.
Baía de Guanabara, o exemplo negativo
O cuidado especial com o golfinho, que é simbolizado no brasão do Estado do Rio de Janeiro, encontra a justificativa no passado. Cartão-postal da cidade, a Baía de Guanabara teve milhões dos cestáceos em seus melhores tempos. Atualmente, não tem mais de 40, segundo o Instituto.
"Se não fizemos nada, se não buscarmos alternativas, será uma questão de tempo: eles sumirão, como aconteceu na Baía de Guanabara", resumiu a bióloga marinha do Instituto, Kátia Silva.
Gabriel BarreiraDo G1 Ri
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